O Minas Tênis Clube promoveu nesta segunda-feira (09) em sua sede Unidade I, a palestra, Treinamento a Longo Prazo e Sucesso Esportivo, ministrada pela Profa. Dra. Maria Tereza Silveira Böhme, graduada, mestre e professora de Educação Física pela Universidade de São Paulo e Doutora em Ciências do Esporte pela Justus Liebig Universität Giessen na Alemanha.
A especialista fez menção aos principais critérios mundiais utilizados na definição do sucesso de um país no esporte: desempenho nos jogos olímpicos; nº de medalhas/ milhão de habitantes; e desempenho em campeonatos mundiais. E surpreendeu ao demonstrar quão relativo, discrepante e contraditório pode ser o sucesso esportivo entre os países a partir dos diferentes critérios.
Nas Olimpíadas de Londres em 2012, por exemplo, Estados Unidos, China e Brasil conquistaram 104, 88, 17 medalhas respectivamente, bem como ocuparam as posições 1ª, 2ª e 22ª na competição. No entanto, a situação se inverteria, se adotado o critério de sucesso esportivo que resulta do número de medalhas pelo número de habitantes do país. Neste caso, a Austrália, com menor população lideraria o ranking, o Brasil ficaria em 4º lugar, um passo à frente da China, 5ª colocada. Ainda que apenas 05 países fizeram parte da amostra para o cálculo deste último critério.
A professora comentou que trabalhos de pesquisa recentes tem buscado compreender o funcionamento de programas esportivos em diferentes países. Nestas pesquisas são analisadas as estruturas esportivas dos países, não apenas com o propósito de comparar o sistema de identificação e promoção de talento, mas para valorizar o entendimento dos vários aspectos que envolvem seus sistemas esportivos.
Os resultados desses estudos apontam que é possível identificar particularidades de acordo com cada país, como também ações semelhantes entre eles, indicando a existência de pontos comuns relevantes no desenvolvimento do esporte de alto rendimento que devem ser destacados e valorizados.
Uma constatação interessante é que os países que alcançam sucesso internacional no esporte de alto rendimento possuem programas de planos e ações nacionais, sejam esses gerenciados pelo governo, por entidades esportivas, ligas nacionais ou institutos nacionais de esporte, que são elaborados de maneira central, e aplicados em todo o território nacional. Infelizmente, neste aspecto o Brasil fica devendo resultados, pois não existe uma proposta estabelecida na realidade brasileira para nortear e ser aplicada por confederações e federações, no intuito de desenvolvimento do esporte de alto rendimento. Os programas esportivos existentes são assistemáticos, de forma que o Estado, os clubes e até a família se responsabilizam pelo desenvolvimento do esporte.
Dois exemplos são o Reino Unido e o Canadá. O Reino Unido sistematizou seus programas em 1997, após o fracasso nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, conseguindo passar da 36ª colocação para a 10ª colocação nos Jogos de Sidney e Atenas e alcançando o 4º lugar em Pequim – 2008. O Canadá buscou se sistematizar para receber os Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, no ano de 2010, por meio de um plano de treinamento a longo prazo implementado nacionalmente, que levou à conquista da primeira colocação em tais jogos.
O modelo SPLISS (Sports Policy factors Leading to International Sporting Success)
A cientista apresentou também a ferramenta SPLISS (Sports Policy factors Leading to International Sporting Success), um projeto de investigação de reputação internacional, que estuda a competitividade das nações no desporto de rendimento.
Pelo modelo são categorizados os fatores responsáveis pelo sucesso das políticas esportivas. O objetivo dos autores foi desenvolver um modelo que permitisse estabelecer um “Índice de Desenvolvimento Esportivo” de cada nação, com fundamento na comparação dos níveis de desenvolvimento de 09 fatores-chave influenciadores no sucesso esportivo internacional.
São eles: Pilar 1, investimento financeiro disponibilizado; Pilar 2 Organização e estruturas das políticas esportivas, ou seja, a forma como o investimento é aplicado e ao que foi produzido; Pilar 3, Participação esportiva, relacionado ao número de crianças e jovens participantes; Pilar 4, Sistema de desenvolvimento e identificação de talentos; Pilar 5, Carreira Esportiva profissional e apoio na aposentadoria esportiva a atletas; Pilar 6, Instalações Esportivas; Pilar 7, Desenvolvimento e apoio aos técnicos, treinadores e profissionais da área; Pilar 8, Competições nacionais e internacionais; Pilar 9, Pesquisas científicas. Como saída do modelo é considerado o sucesso esportivo internacional, composto por Jogos Olímpicos de Verão, Jogos Olímpicos de Inverno e Campeonatos Esportivos Internacionais.
Atualmente, o SPLISS constitui-se em um projeto que reúne colaborativamente 43 pesquisadores, 33 representantes de organizações políticas e envolve 3 mil atletas de alto rendimento, 1300 treinadores e mais de 240 diretores de desempenho. São 15 países participantes: Espanha, França, Suíça, Japão, Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estônia, Finlândia, Holanda, Irlanda do Norte, Portugal e Coréia do Sul, inclusive o Brasil.
A Universidade de São Paulo (USP), nos representando no estudo desde 2009 pelos grupos de pesquisa em Esporte e Treinamento Infantojuvenil (GEPETIJ) e em Gestão do Esporte (GEPAE) da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), por meio da professora Maria Tereza Silveira Böhme participou nos dias 13 e 14 de novembro de uma conferência na cidade de Antuérpia, na Bélgica, juntamente com representantes dos quinze países cujo tema central da conferência foi Elite Sport Success: society boost or not?, tratando das razões pelas quais alguns países ganham mais medalhas que outros, a eficiência das políticas públicas e os impactos do sucesso em eventos esportivos internacionais na sociedade como um todo.
Em relação ao Brasil, a pesquisa apontou que possuímos baixos números em comparação à média dos outros países, exceto na participação nas competições internacionais e no apoio financeiro. As áreas que apresentam índices mais abaixo da média são os de apoio aos técnicos, desenvolvimento de talentos e infraestrutura. Segundo o SPLISS, essas três áreas devem ser os focos das políticas públicas no país para melhorar o quadro de medalhas.
Referência:
Portal Universidade de São Paulo