Nada como a sensação de trabalho bem feito, não é mesmo? José Guimarães, técnico do Atletismo de Oratórios, sentiu na pele quando foi premiado no Melhores do Ano de 2016. Fruto do trabalho árduo e da dedicação de seus atletas, o prêmio só aumentou o orgulho de José que afirma: “cada sorriso das crianças pagará o preço dos dias difíceis e farão tudo valer a pena.”
Confira a entrevista completa do Observatório do Esporte de Minas Gerais:
Como você começou a ter contato com o esporte?
Desde criança sempre gostei de assistir ao atletismo na televisão. Não cheguei a ser atleta, mas participei de algumas corridas de rua. Na Universidade Federal de Viçosa estudei a modalidade no curso de Educação Física, porém foi por meio dos Jogos Escolares de Minas Gerais que comecei a ter contato de verdade com o atletismo. No ano de 2011 classificamos uma equipe de futsal da escola para a etapa regional do JEMG e resolvi inscrever alguns meninos(as) no atletismo. A partir daí percebi que esse esporte combinava muito com o perfil dos alunos com quem trabalhava; comecei a estudar mais sobre esse esporte e tive a ideia de criar um projeto de iniciação ao atletismo no município.
Há algum técnico ou técnica que seja um grande exemplo para você?
Sim. Os treinadores e professores universitários Fernando de Oliveira (UFLA) e Jorge Perrout (UFJF) são meus maiores exemplos. Eles são profissionais que, além de cumprirem sua função pedagógica na universidade, ainda dedicam grande parte do seu tempo para desenvolverem seus projetos esportivos, dando várias oportunidades a seus participantes, por meio do atletismo.
Como você avalia as categorias de base atualmente? Podemos esperar novos talentos surgindo nos próximos anos?
No Brasil qualquer esporte que não seja o futebol fica em segundo plano. É assim em quase todo o país. No atletismo, em particular, vejo muitos treinadores fazendo a diferença, mesmo com pouquíssimo ou nenhum apoio. Mas, isso ainda é muito pouco pra podermos desenvolver um esporte e revelar grandes talentos. Para que isso ocorra precisamos, além de investimento, criar ações para aumentar consideravelmente a quantidade de praticantes. Aí sim poderemos ser um celeiro de grandes atletas, não só para o atletismo, mas também para outras modalidades além do futebol. Assim sendo, enquanto não massificarmos a iniciação ao atletismo não será possível prever se novos talentos nacionais surgirão com a capacidade de buscar uma medalha olímpica.
Para você o que significa o esporte?
O esporte é uma grande ferramenta de transformação social, por meio da qual educamos os jovens com valores, proporcionando contato com diversos ambientes e atletas, aumentando a sua autoestima e ainda incluindo hábitos saudáveis para o resto da vida.
Qual a sensação de ter sido premiado no “Melhores do Ano 2016”?
Quando vi a notícia passou um filme na minha cabeça com as lembranças de quando comecei a ensinar atletismo, o convite aos primeiros alunos, a luta diária para evoluir a estrutura do projeto, a busca por mais conhecimento e o suor de cada atleta nos treinos. No dia da premiação o que mais me marcou foi sentir o orgulho dos meus pais e da minha esposa. Essa emoção ficará guardada para sempre em minha memória.
Quais são as suas principais conquistas como treinador?
Dentro das pistas meus alunos já conquistaram muitas medalhas em nível estadual. Já fomos vencedores nos campeonatos estaduais e nos Jogos Escolares de Minas Gerais. Ano passado tivemos nossa primeira medalha em nível nacional nos Jogos Escolares da Juventude. Porém, é fora das pistas que tenho tido minhas maiores vitórias. Os alunos, atletas, que participam dos treinamentos são acompanhados e cobrados constantemente para que não percam o foco nos estudos. Eles precisam saber que podem sim ser atletas, mas que a escola vai lhes garantir um futuro seguro. Isso vem fazendo com que eles evoluam nos estudos e garantam todas oportunidades que uma carreira universitária pode proporcionar.
Um recado para os técnicos que queiram iniciar carreira no esporte ou que estão começando.
Aos que estão começando ou queiram começar a treinar jovens atletas em esportes distintos do futebol digo o seguinte: superem-se a cada dia. Muitas e muitas situações lhes farão desanimar. Mas, se quiserem fazer algo diferente, terão que fazer muito mais do que lhes foi pedido e ensinado nas universidades. Em um país onde só o futebol importa será preciso muito trabalho e persistência para que as coisas realmente comecem a acontecer. Não será fácil começar do nada e trazer uma nova modalidade, muitas vezes desconhecida, mas cada sorriso das crianças pagará o preço dos dias difíceis e farão tudo valer a pena.