
Thomas Nemes representa valores da missão diplomática britânica em Minas Gerais. Foto: Divulgação
Thomas Nemes é Cônsul do Reino Unido em Belo Horizonte. Dentre as suas atribuições, ele é responsável por representar o país, além de auxiliar em questões administrativas e econômicas que envolvam o Reino Unido e possíveis parceiros. O estado de Minas Gerais desenvolveu, em parceria com o consulado, uma série de atividades visando receber os atletas britânicos durante a preparação para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que aconteceram no Rio de Janeiro.
Nesta entrevista para o Observatório do Esporte, Thomas fala sobre o processo de preparação, o legado deixado pela passagem da delegação britânica e como está, atualmente, a relação entre Minas Gerais e Reino Unido.
Natural de Londres, formado em Ciências Políticas, na Inglaterra. Possuidor de vasta experiência em comunicação social e relações públicas, o Sr. já trabalhou como consultor para empresas britânicas nos setores de energia, saúde, tecnologia da informação e relações internacionais. Enquanto um dos responsáveis por alocar, em Belo Horizonte, a delegação britânica que disputou os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o que essa experiência junto ao setor esportivo representou em sua trajetória profissional?
“Quando falamos de esporte, não há como não falar em trabalho em equipe. Foi necessária muita determinação e um extenso planejamento para atingir os objetivos traçados em função dos Jogos Olímpicos de 2016. Trazer as delegações Olímpicas e Paralímpicas à capital mineira se provou extremamente enriquecedor. Tive a possibilidade de colocar em prática o aprendizado adquirido ao longo da minha trajetória para dar suporte à Missão Diplomática Britânica, por meio do desenvolvimento de uma rede de contatos sólida e influente para assim conseguir receber e alocar os Comitês Olímpico e Paralímpico com segurança, estrutura e logística alinhadas. Inaugurar o Consulado do Reino Unido em BH foi um grande desafio da minha carreira, e casar esse projeto com o maior evento do mundo, os Jogos, foi uma grande honra. O esporte é um grande impulsionador de desenvolvimento social, cultural e econômico. O impacto ficou muito claro, tanto para a cidade de Belo Horizonte, quanto para os nossos atletas. As articulações realizadas em conjunto com o governo de Minas Gerais garantiram o sucesso do trabalho realizado em 2016. E isso teve grande influência para a decisão do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, ocorrida em setembro deste ano, de definir o Consulado Britânico em Belo Horizonte como permanente, a partir do que era um projeto piloto, inicialmente. Isso foi um marco na minha história e ilustra bem como as parcerias entre Minas Gerais e Reino Unido têm potencial para maiores cooperações nas mais diversas áreas.”
Quais foram as principais funções e desafios envolvidos no processo de aclimatização e preparação dos atletas britânicos em Belo Horizonte?
“Os maiores desafios foram em relação às questões técnicas e de logística dos Centros de Treinamento e de infraestrutura da cidade em si. Felizmente, a estrutura de ponta dos centros esportivos da capital contribuíram com a manutenção da regularidade e do alto nível dos treinamentos de nossos atletas, permitindo que a concentração e o trabalho para os Jogos fossem mantidos. Outro fator que teve impacto muito positivo foi a hospitalidade dos mineiros; um grande diferencial nesse período tão desafiador da vida de um atleta. A Secretaria do Estado de Educação desenvolveu uma competição para que as crianças da rede escolar desenhassem cartões postais de boas vindas. Os vencedores viajaram a Belo Horizonte para apresentar os cartões aos atletas. Em alguns casos, essa foi a primeira viagem das crianças à capital, que demonstraram criatividade, espírito olímpico e o desejo de querer acolher bem. Além disso, a extensão da cidade e a sua proximidade com o Rio de Janeiro foram ideais para a rotina e o deslocamento da delegação. Como resultado, o TeamGB, do Reino Unido, foi o segundo no quadro de medalhas das Olimpíadas Rio 2016 ganhando 67 medalhas no total, sendo 27 de ouro. Já o time ParalympicsGB, nas Paralimpíadas, ficou também em segundo lugar no quadro geral, com 147 medalhas, sendo 64 de ouro. Pela primeira vez na história dos Jogos, o Reino Unido terminou em segundo lugar no ranking geral. Foi um resultado realmente incrível! Após os Jogos, quando Bill Sweeney, diretor-presidente do Comitê Olímpico Britânico, era perguntado sobre a razão do sucesso do TeamGB, ele não hesitava em dizer “tudo começou em Belo Horizonte”. Acho que isso comprova o sucesso da nossa parceria.”
Por que Minas Gerais foi o estado brasileiro escolhido pela delegação britânica?
“A escolha de Belo Horizonte para ser a sede de treinamento das equipes britânicas foi um voto de confiança na infraestrutura voltada para o esporte e pela hospitalidade do Estado de Minas Gerais. Aqui estiveram nadadores, lutadores de boxe, jogadores de rúgbi, entre outros. A cidade também conta com um aeroporto bem conectado e uma ótima rede de hotéis. A parceria entre o Consulado em Belo Horizonte, o Governo do Estado, Prefeitura da capital, Minas Tênis Clube, UFMG e Cruzeiro, no ano passado, pode ser tomada como um ótimo exemplo de boas práticas de mútuo benefício, visando um horizonte de longo prazo, que devem inspirar e abrir ainda mais oportunidades de negócios entre os países.”
“Paul Ford, o chefe da delegação britânica, considerou a estrutura de Belo Horizonte para treinamento a melhor do Brasil” – Thomas Nemes

Vijay Rangarajan (esq.) e Thomas Nemes (dir.) estiveram presentes no evento “Reino Unido na Praça”, que aconteceu em julho deste ano. Foto: Divulgação
Atletas, profissionais e entidades britânicas elogiaram a estadia em BH e o acolhimento dos mineiros. Considerando as relações bem sucedidas e a conquista do segundo lugar no ranking geral de medalhas nos Jogos Olímpicos 2016, como o Consulado avalia a parceria realizada junto ao Núcleo de Articulação Minas 2016?
“Acredito que a nossa parceria com o Núcleo de Articulação desempenhou um trabalho fundamental em segurança, mobilidade, saúde e voluntariado. Foram extremamente atenciosos, e a coordenação do Núcleo providenciou escolta e patrulhamento com atenção dedicada da Polícia Militar. Tudo isso contribui com a criação de um clima mais leve, propício a uma melhor interação da delegação com a comunidade local. Em um momento tão importante na vida de um atleta, contar não só com uma excelente infraestrutura, mas também com uma hospitalidade calorosa e estruturada da cidade foi, com certeza, um fator decisivo. Os resultados foram satisfatórios e incentivadores, tanto no quadro olímpico quanto no paralímpico. O que nos encorajou a trazer a equipe britânica de judô depois dos Jogos, em julho deste ano, para o evento realizado pelo Minas Tênis Clube, ‘Reino Unido na Praça’. O evento contou inclusive com a presença, do embaixador britânico, Vijay Rangarajan, recém chegado ao Brasil na época, e que marcou sua primeira visita oficial à Belo Horizonte.”
A troca de conhecimento entre acadêmicos brasileiros e britânicos foi o foco do Congresso de Ciência do Esporte e Legado Olímpico e Paralímpico, fruto da parceria entre a Missão Diplomática do Reino Unido no Brasil, a Associação Paralímpica Britânica (BPA), a Associação Olímpica Britânica (BOA), o Governo de Minas Gerais, o Minas Tênis Clube e a Universidade Federal de Minas Gerais, em 2016. Em sua opinião o propósito da parceria foi alcançado?
“Os seminários e palestras do Congresso de Ciência do Esporte e Legado Olímpico e Paralímpico, realizado em junho do ano passado, cumpriram com o objetivo de trocar e ampliar o conhecimento nessas áreas ao trazer a expertise de cinco universidades britânicas para Belo Horizonte, são elas: University of Nottingham, University of Bath, University of Kent, Loughborough University e Anglia Ruskin University. Como resultado, pesquisadores e professores da UFMG já publicaram pesquisas em jornais internacionais em colaboração com pesquisadores dessas universidades. Alunos da UFMG estão cursando doutorado no Reino Unido e uma funcionária do Minas Tênis Clube cursa o mestrado. O grande legado dessa parceria foi o fortalecimento e a crescente visibilidade dada para a combinação entre esporte e educação, além de avanços em relação aos treinamentos de atletas de alto rendimento.”
Recentemente, o Consulado decidiu fixar-se em definitivo em Belo Horizonte, após relações bem-sucedidas em Minas, em especial, na área de inovação e mineração. No esporte estão desenvolvendo o Try Rugby MG. Qual é a proposta desse projeto?
“Primeiro, acho importante ressaltar que o Consulado não atua só em mineração e inovação. O Consulado representa todos interesses da nossa Missão Diplomática no Brasil e em Minas Gerais, especialmente nos campos de comércio e investimento, ciência e inovação, iniciativas de mitigação de mudanças climática, etc. O programa Try Rugby MG é, na verdade, um programa do British Council, não do Consulado em si. O British Council, em parceria com o SESI MG, também atou em Minas Gerais desde 2014 com o esse programa, que já levou o esporte para cerca de mil crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 17 anos. O projeto tem um forte foco social, trazendo os valores de respeito, trabalho em equipe, disciplina e liderança às comunidades através do rúgbi. Hoje, o Try Rugby em Minas Gerais foi descontinuado. Esse projeto é bem sucedido em vários estados pelo Brasil e o British Council está na busca de novos parceiros para retornar a iniciativa em Minas Gerais, tendo inclusive se reunido recentemente com o atual Secretário do Estado de Esporte para apresentar o projeto.”
O evento Reino Unido na Praça, promovido em junho de 2017, envolveu atividades culturais e esportivas abertas à população. Como o evento foi avaliado pelo Consulado? Correspondeu às expectativas?
“O evento foi um dos marcos nas atividades do Consulado, em 2017. Além de celebrar e estreitar as parcerias firmadas em 2016, em função das atividades relacionadas às Olimpíadas e Paralimpíadas, a ocasião se demonstrou propícia para a apresentação da cidade ao então recém chegado embaixador britânico, Vijay Rangarajan. Patrocinado pela Cultura Inglesa e pela marca britânica Triumph, entre outros patrocinadores, o evento do Minas Tênis Clube (MTC), em parceria com o Consulado, contribuiu com a solidificação da nossa presença no Estado, nos permitindo progredir na colaboração bilateral considerando as sutilezas regionais desse país tão rico. O MTC é um grande parceiro do Consulado e o time de judocas do clube está de parabéns, foi através dele que o TeamGB de judô voltou à cidade. O sucesso do evento nos permitiu, inclusive, ter outros planos voltados para a sociedade de BH, como a parceria com a BH Beatle Week e a realização da competição StartUp Games, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SEDECTES). Isso demonstra que, apesar de reais desafios econômicos que o país atravessa, existem sim exemplos tangíveis do legado dos Jogos para o Brasil, inclusive aqui em Minas Gerais.”
O “Melhores do Ano”, é uma solenidade da Secretaria de Estado de Esportes de Minas Gerais voltada a homenagear os principais nomes do esporte mineiro. O Sr. foi um dos homenageados por seu significativo apoio ao projeto Minas 2016 e relevante empenho em prol do intercâmbio internacional esportivo em Minas Gerais. O que representou para você esse reconhecimento?
“O prêmio “Melhores do Ano” da Secretaria de Estado de Esportes de Minas Gerais representou o reconhecimento da frutífera cooperação entre o Reino Unido e Minas Gerais. Acredito que ele seja um indicativo do sucesso dessa parceria assim como uma demonstração da promissora continuidade desse trabalho conjunto com o Estado. Agradeço a homenagem em nome da equipe do Consulado e relembro os parceiros que, através da educação e do esporte, viabilizaram esta conquista.”
O Observatório do Esporte de Minas Gerais é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Esportes (SEESP) que nasceu em 2012 com o intuito de monitorar a realidade esportiva mineira, por meio do levantamento de dados, números, indicadores e pesquisas. De cara nova em 2017, o Observatório do Esporte assume a missão de organizar e facilitar o acesso à informações e ferramentas de variadas fontes, que incentivem o diálogo e iniciativas entre agentes dos setores público, privado e sociedade civil para o fomento do esporte e da prática de atividade física em Minas Gerais. Portanto, destina-se a conselheiros, escolas e universidades, empresas, federações, clubes, entidades sem fins lucrativos, formadores de opinião, atletas, técnicos e outros profissionais do esporte, bem como o cidadão que busca a melhoria da qualidade de vida com a atividade física. Em sua opinião, como informações esportivas podem incentivar a articulação dos diversos segmentos locais envolvidos com o esporte? O Reino Unido tem experiências exitosas com semelhante intuito?
“Informação é fundamental principalmente quando pensamos no cenário digital. A iniciativa do Observatório do Esporte de dar visibilidade a uma agenda cheia de eventos esportivos, como também divulgar cursos e dar apoio aos projetos da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, é um recurso poderoso para dar publicidade aos desafios e oportunidades desse segmento ao passo que se coloca como referência na área. Dessa maneira, munidos das mesmas informações, parceiros com diferentes expertises podem desenvolver a sua rede de parcerias em função do esporte. No Reino Unido temos uma plataforma similar, o UK Sport, que traz a mesma proposta e tem se provado de grande importância nesse sentido.”
Observatório do Esporte de Minas Gerais