Natural de Pernambuco e atualmente morando em Uberlândia, Nayra Cabral recebe visita surpresa da mãe antes de entrar em quadra.
Para muitos jovens que ainda estão iniciando sua vida de atleta e sonhando com um futuro melhor, a caminhada não é fácil. No caso de Nayra Cabral, ponta de 16 anos da equipe de vôlei do COC Uberlândia (MG), a dificuldade enfrentada talvez seja a mais sentida entre os adolescentes de sua faixa etária: a distância da família e a repentina e radical mudança de vida, hábitos e costumes, em uma cidade distante e com características completamente diferentes do local em que foi criada.
A história de Nayra não é diferente da de muitas meninas de sua idade. Porém, seu caso caminha para um desfecho raro com relação à maioria delas. Natural de Cabo de Santo Agostinho, cidade no interior de Pernambuco, ela começou a jogar vôlei aos nove anos de idade, incentivada por sua mãe, Sônia, ex-atleta amadora que sonhou em virar profissional, mas não alcançou o objetivo. Após quatro anos no esporte e passagens por seleções estaduais, em 2011 finalmente surgiu a oportunidade que Nayra tanto esperava: a chance de participar da peneira de dois grandes clubes do Brasil. “Fui convidada para fazer a peneira do Praia Clube, em Uberlândia, e de um outro clube do sul do país. Tive que escolher, e optei pelo Praia, porque lá era mais fácil para eu chegar. Fui aprovada, e há seis meses moro em um apartamento cedido pelo clube, que paga todas as minhas contas e também me dá uma ajuda de custo”, contou Nayra.
O primeiro objetivo estava alcançado, mas as dificuldades não parariam por aí. Agora atleta da base de um dos maiores clubes do país na modalidade, a menina, que é muito apegada à mãe, se via pela primeira vez tendo que viver sozinha, em uma cidade distante e aonde não conhecia ninguém. “Se não fosse Deus na minha vida, nada disso teria dado certo. Amo o vôlei, sonho em me tornar profissional e realizar um sonho que era da minha mãe, e se eu não for capaz de enfrentar todas as dificuldades que virão pela frente, jamais irei alcançar meus objetivos. Essa foi apenas a primeira de muitas dificuldades e barreiras que ainda virão pela frente”, disse Nayra.
Seis meses se passaram entre a viagem para participar da peneira em Uberlândia e a terceira partida de Nayra nos Jogos Escolares da Juventude, em João Pessoa. Tempo em que a menina e sua mãe, Sônia, foram obrigadas a ficar separadas pela primeira vez desde que Nayra nasceu. O reencontro aconteceu na manhã dessa quinta-feira, dia 13, no ginásio de esportes da UFPB. E da maneira mais inusitada e emocionante que poderia ser. “Sou professora de educação física, e minha vida é sempre muito corrida. Tinha dito a ela que tentaria vir apenas para a final de sábado, mas não sabia se iria conseguir, e muito menos se ela chegaria na final e ainda estaria em João Pessoa nesse dia. Mas consegui uma folga no trabalho, e vim sem avisar a ela. Quando entrei no ginásio e a vi, desci as escadas da arquibancada. Ela não me viu, nem imaginava que eu estava aqui. Sentei atrás dela, fechei os olhos dela com minhas mãos e na hora ela percebeu que era eu. A saudade era enorme, nos abraçamos e choramos por uns dez minutos sem parar. Foi muito emocionante.”, disse Sônia, que prometeu ficar ao lado da filha até o retorno dela a Uberlândia.
E a presença de Sônia deu sorte. Após duas vitórias nas duas primeiras rodadas, a equipe de Minas Gerais derrotou a Paraíba por 2 sets a 0 (25×22 / 25×16) e encerrou a primeira fase da competição na liderança do grupo e com 100% de aproveitamento. Agora, as mineiras apenas aguardam para saber quem enfrentarão na semifinal, que acontece no sábado. Já para Sônia e Nayra, o intervalo entre os dois jogos terá um sabor muito especial. Finalmente, após seis meses, mãe e filha poderão passar um dia inteiro juntas e matar um pouco a saudade.
Crédito: William Lucas/ Inovafoto/ COB