Magic Paula fala sobre falhas estruturais e de condução que influenciam diretamente o crescimento esportivo no Brasil
O esporte costuma ser referência no Brasil, mas, em grande parte das vezes, é referência por meio de grandes ídolos e conquistas esporádicas, sem ser referência em governança, gestão e regularidade, apesar dos exemplos de boas práticas que começaram a surgir recentemente. Ainda hoje, há uma constante falha estrutural e na maneira de se conduzir o esporte.
“O Brasil possui programas esportivos assistemáticos, de forma que o estado, os clubes e as famílias se responsabilizam pelo desenvolvimento dos atletas”, essa é uma frase de Victor Matsudo, citada por Maria Paula da Silva, a Magic Paula, campeã mundial pela seleção brasileira de basquete, medalhista olímpica e gestora esportiva em palestra no IV Seminário Internacional de Gestão e Políticas para o Esporte. Segundo a gestora, ainda hoje existem diversas falhas estruturais e de condução do esporte. Cada pessoa e entidade tenta conduzir o esporte de uma maneira e “se a gente quer mudar, melhorar o esporte, ser algo diferente, é preciso pensar nessa estrutura toda e de que forma se conduz o esporte”, afirma.
Em sua caminhada como gestora esportiva, Maria Paula afirma ter visualizado alguns pontos que dificultam o desenvolvimento da área. Segundo ela, um dos grandes problemas que podem ser identificados por aqueles que trabalham no poder público, diz respeito às pessoas e escolhas de funções a serem desenvolvidas. Às vezes essa dificuldade é resultante da falta de uma equipe robusta, ou até da falta de competência ou técnica suficientes para acompanhar e avaliar políticas e projetos esportivos. A escolha e rotatividade dos indivíduos a realizarem determinadas funções também ditam a sobrevivência desses projetos. “A gente sobrevive muito de barganha política de cargos em secretárias, com raras exceções, e aquele que é técnico, que ser preparou as vezes fica de mão amarrada, pois, convive com uma máquina que é viciada, desmotivada porque a cada 3 meses tem alguém diferente dizendo o que ele deve fazer”, comenta.
Outro ponto que gera dificuldades é a integração da prática esportiva à sociedade. O esporte costuma ser lembrado durante conquistas e é falado de atletas que ganham muito e fazem isso profissionalmente, mas é esquecido o caráter social do esporte como direito de todos, que está integrado a outros valores como educação e saúde. “O esporte agrega valores, mas a gente esquece de fazer a integração, de mostrar que a gente tendo uma população mais ativa vai ter menos gasto com a saúde, de que se tiver uma criançada mais ativa na escola vai melhorar notas, sua parte cognitiva, por exemplo”, explica Maria Paula.
Outro problema identificado pela gestora diz respeito aos espaços para a prática esportiva que, ao contrário do que costuma ser dito, não são poucos. O problema é que se esquece que precisa ter gente para trabalhar e para cuidar desses espaços que acabam sendo utilizados para outros fins. “O espaço por ser público não tem que ser feio e malcuidado, a maioria das vezes que você encontra um espaço público ele é cinza, cheio de mato. As crianças poderiam muito bem-estar brincando nesses espaços, mas não vão pois é perigoso, está malcuidado, alguém tomou conta… Se a gente não fizer algo bonito, atraente, com segurança não vai atrair a criança ou a gente e a gente acaba tendo que pagar uma academia porque o espaço público é tomado pelo mato, pela falta de gestão, então a gente acaba perdendo o potencial desses espaços”, conclui.
SOBRE O PROJETO INTELIGÊNCIA ESPORTIVA
O IV Seminário Internacional de Gestão e Política para o Esporte é uma iniciativa do Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR/IE). O Instituto de Pesquisa “Inteligência Esportiva” é uma ação conjunta entre o Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade (CEPELS) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR) da Secretaria Especial de Esportes do Ministério da Cidadania. Esse projeto surgiu em 2013 com o objetivo de produzir, aglutinar, sistematizar, analisar e difundir informações sobre o esporte de alto rendimento no Brasil e analisar as políticas públicas para o esporte de alto rendimento.
A palestra completa pode ser encontrada em: https://bit.ly/2WXwCfi