A primeira participação do Brasil em uma edição dos Jogos Paralímpicos de Inverno terminou com sensação de dever cumprido. No Domingo, 09/03/3014, Fernando Aranha, 35, um dos dois atletas do país em Sochi, competiu na prova dos 15km do esqui cross-country. O paulistano de Cotia terminou em 15º, entre 21 atletas. Na Rússia, Aranha ainda disputará o sprint de 1km, na próxima quarta-feira, 12, e os 10km, no domingo, 16, data de encerramento dos Jogos. Andre Cintra, outro brasileiro em Sochi, compete no snowboard na sexta-feira, 14.
A prova dos 15km do esqui cross-country começou às 10h (3h no Brasil), no Laura Cross-country Ski & Biatlhon Center, localizado nas montanhas de Rosa Khutor, distrito de Sochi. Aranha, cadeirante em razão de uma poliomielite, foi o sexto atleta a largar, às 10h03. O último, o russo Roman Petushkov, saiu às 10h10 – a ordem é estabelecida de acordo com o ranking mundial. Os melhores colocados largam por último.
Vinte e um atletas, representando oito países, brigaram por medalhas na prova. Eles percorreram cinco vezes um percurso de aproximadamente 3km. Aranha completou os 15km em 49min31s4, o que o deixou em 15º lugar no resultado final. O brasileiro terminou à frente de dois canadenses, dois norte-americanos e dois italianos. O resultado foi o melhor do esquiador até agora em provas de 15km desse nível, com os principais atletas do mundo. Ele começou a se dedicar ao esporte na neve no final de 2012. Competindo em casa, os russos fizeram um pódio triplo: Roman Petushkov foi ouro (40min51s6), Irek Zaripov, prata (41min55s1) e, Aleksandr Davidovich, bronze (42s08s6).
“A prova foi sofrida, mas muito divertida. Cai umas cinco, seis vezes no percurso, mas o ritmo estava bom. O tempo estava quente, gostoso”, contou Aranha. A temperatura em Rosa Khutor estava em torno de 10° C, considerado quente se comparada às marcas negativas no termômetro registadas em edições anteriores dos Jogos de Inverno. “Também gostei da posição em que larguei. Tinha gente para eu correr atrás, e tinha gente na minha cola. Ou seja, tive muita motivação para buscar meu melhor resultado.”
Querido pela torcida russa, o brasileiro era bastante aplaudido quando passava esquiando pela arquibancada onde o público assistia à prova. “A ficha caía toda vez em que via as pessoas gritando. Era fantástico. Comecei a sentir o peso de um evento dessa magnitude. Estou me sentindo muito feliz”, comentou.
Mesmo exausto após percorrer 15km, o paulista disse que ainda tinha fôlego e vontade para mais. “Eu sempre vou querer mais uma volta para conseguir alcançar o atleta da frente. Consegui passar um na última volta e pensei: uma meta atingida.”
O esqui cross-country é aberto a atletas com deficiências físicas e visuais. Dependendo da limitação física, o esquiador pode usar um sit-ski (uma cadeira equipada com um par de esquis), caso do Aranha. Atletas com deficiência visual competem com um atleta-guia. Tanto as mulheres como os homens participam em provas de distâncias curtas, médias e longas, ou então no revezamento por equipe.
Os Jogos Paralímpicos de Sochi serão disputados até 16 de março, por 575 atletas. Eles vão competir em 72 eventos, de cinco esportes: esqui alpino, biatlo, esqui cross-country, hóquei sobre trenó e curling em cadeira de rodas. O snowboard estreará nos Jogos como parte da programação do esqui alpino.
Atleta: Fernando Aranha Rocha
Data e local de nascimento: 10/04/1978, em São Paulo
Peso: 76kg
Altura: 1,63m
Classe funcional: LW11.5 (sitting)
Provas em Sochi: 1km (12/3, 3h*) e 10km (16/3, 5h45*)
História: Por causa de uma poliomielite, Fernando Aranha teve o movimento das pernas prejudicado aos 4 anos. Aos 16, um amigo sugeriu que praticasse basquete em cadeira de rodas. Foi, então, que ele fugiu do orfanato em que vivia e foi ao Ibirapuera para conhecer um time. Começou a praticar o esporte e, a partir daí, passou a experimentar outras modalidades. Hoje, além do esqui cross-country, compete no ciclismo adaptado e no paratriatlo.
Matéria publicada no Portal do Comitê Paralímpico Brasileiro.