Líder no movimento pela participação do sexo feminino em todas as delegações, ex-remadora Anita DeFrantz prevê aumento a partir de 2012
Os Jogos Olímpicos de Londres são uma marca importante na luta pelo direitos das mulheres. Nas Olimpíadas da capital inglesa, pela primeira vez na história, todos os países participantes possuem mulheres em suas delegações. Um feito notório se comparado ao fato de que, há 18 anos, na edição de Atlanta, em 1996, 26 nações ainda disputavam o evento compostas apenas de atletas homens.
Um das principais ativistas por trás desta conquista é a ex-remadora americana Anita DeFrantz, medalha de bronze nos Jogos de Montreal, em 1976. Primeira mulher negra e nascida nos Estados Unidos a ser eleita membro do Comitê Olímpico Internacional, em 1986, ela conhece como poucos a luta para aumentar a presença feminina no principal evento esportivo do mundo.
Quando eu comecei como atleta, eu tinha uma ideia de que havia quatro vezes mais homens do que mulheres nas Olimpíadas, mas eu não entendia como funcionava, não entendia nem quantos esportes eram. Então eu aprendi muito, como as modalidades entram no programa e como as decisões são feitas – explica.
– Quando os primeiros Jogos da era moderna foram disputados, em Atenas, em 1896, as mulheres eram proibidas de competir. Em 2012, não só as mulheres compareceram em massa em todos os 205 países como ultrapassaram o número de homens em algumas delegações. A grande supresa são os Estados Unidos, que possuem 269 mulheres e 261 homens. Com a inclusão do boxe feminino na atual edição, o sexo passou a estar presente em todas as modalidades, sendo duas delas, a ginástica artística e o nado sincronizados, exclusivas.
– Percebi que, no meu próprio esporte, o remo, quando comecei, não podia haver mulheres nas Olimpíadas até 1976, embora o esporte tenha estado no programa desde o início. E por alguma razão, nós só competíamos na metade da distância dos homens, o que é ridículo – recorda DeFrantz.
Em 2010, DeFrantz aumentou ainda mais a sua participação a favor das mulheres no COI, assumindo a presidência da Comissão de Mulheres no Esporte da entidade. Desde então, passou a ameaçar banir todos os países que permanecessem com boicote às mulheres nos Jogos. Em 2012, os últimos três países 100% masculinos – Catar, Brunei e Arábia Saudita – enviaram pela primeira vez atletas do sexo feminino a Londres.
O caso da Aurábia Saudita pode ser considerado o mais emblemático. Apontado como uma ditatura monárquica com desigualdades sociais e forte repressão às mulheres, o país acabou sendo o último a liberar a participação nos Jogos, temendo os efeitos da “Primavera Árabe”, conjunto de revoltas populares que derrubou governos na Tunísia, Egito e Líbia a partir de 2010.
– Elas passam anos em casa, tem problemas culturais e políticos, que tiveram que ser tratados. Eu dou os parabéns para a liderança do país por finalmente dar esse passo e não mais permitir as pessoas que as querem assustadas, querem criar esse nível de medo. Excluí-las por motivos políticos é errado – diz a ex-remadora, referindo-se ao país onde as mulheres só saem de casa com autorização dos homens, não votam, não dirigem e não praticam esportes.
DeFrantz acredita que, a partir dos Jogos de Londres, a participação femimina tende a aumentar. Estima-se, na atual edição, que 45% dos quase 11 mil atletas são do sexo feminino.
– Toda nação entre as 204 delegações terão mulheres que poderão voltar para casa e inspirar outras mulheres por lá que poderão pensar em se tornar uma atleta olímpica.
* Matéria retirada do site www.sportv.globo.com (link direto)