Berço do judô e palco dos próximos Jogos Olímpicos, o Japão abriu o caminho para uma grande parceria com o Brasil na divulgação da modalidade e capacitação de profissionais. Na última semana, o Ministério do Esporte, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), o Instituto Kodokan do Brasil e a embaixada japonesa reuniram-se e definiram os moldes do projeto que levará professores da arte marcial para um curso no Japão, entre 8 de setembro e 2 de outubro. A partir dos conhecimentos adquiridos, os profissionais terão a missão de compartilhar as experiências com outros instrutores e implantar um currículo da modalidade em escolas públicas brasileiras.
Ao todo, a CBJ indicou 20 nomes, de vários estados brasileiros, para integrarem o projeto: Abdias Queiroz (PI), Ademir Schultz Júnior (SC), André Fernandes (MG), Bruno Pasqualoto (SP), Fabiano Zamboneti (SC), Joseph Kleber Guilherme (GO), Julio César Ferreira (MT), Luiz Bayard (RS), Thiago Valdão (SP), Maicon França (BA), Raphael Luiz Moura (SP), Renato Yoshio Kimura (SP), José Gildemar Carvalho (SP), Uichiro Umakakeba (SP), Cléber do Carmo (SP), Clovis Aparecido (SP), Claudio Calazans (SP), Nicodemos Filgueiras Júnior (SP), Joji Kimura (SP) e Rafael de Camargo (SP). Todos os candidatos são mestres de judô e têm fluência em inglês e/ou japonês. O estado de São Paulo tem o maior número de representantes por ter a maior comunidade japonesa no Brasil.
Representando Minas Gerais, o Professor André Fernandes, treinador do Centro de Treinamento Esportivo da UFMG também integra o projeto e conversou um pouco com o Observatório do Esporte sobre a modalidade:
Observatório: Como você vê o ensino do judô nas escolas?
André Fernandes: O Judô tem uma tradição educativa muito grande. A partir da tradição japonesa que preserva a hierarquia, a valorização do professor, temos que resgatar esses valores nas escolas, tendo em vista a realidade das escolas públicas. é como plantar um boa semente para resgatar o prestígio do professor brasileiro.
Observatório: Como você se sentiu ao receber o convite da Confederação Brasileira e qual foi o critério para seleção dos professores?
André Fernandes: Na realidade eu fiquei muito surpreso porque todo judoca sonha em ir ao Japão e eu já estava me preparando para ir. Então recebi o convite e me senti muito valorizado. Fiquei muito feliz!
Quanto aos critérios de seleção, ao que me parece foram selecionados professores que já têm uma história com o ensino de judô nas escolas públicas e a fluência em outros idiomas. A Confederação Brasileira tem atuado com muita força na formação de seus profissionais, procurando sempre aqueles capazes de desenvolver a modalidade de maneira mais científica e mais adequada aos parâmetros internacionais. Além disso, eles procuravam professores que fosse de fato fazer esse projeto se concretizar.
Observatório: Como o projeto se trata de um intercâmbio entre Brasil e Japão, o que você acha que o esporte brasileiro pode oferecer de contra partida? O que podemos levar do nosso esporte para o esporte oriental?
André Fernandes: Eu acredito que o brasileiro tem uma criatividade muito grande. Nós trabalhamos muito bem com poucos recursos e isso é uma coisa bem distinta da realidade japonesa.
Vamos receber um pouco mais da disciplina oriental e levar um pouco da nossa capacidade de fazer muito com pouco.
Observatório: A Unesco declarou o judô como esporte mais adequado para o ensino de crianças e adolescentes. Por que o judô e não outras modalidades?
André Fernandes: Pelo fato de você não conseguir ensinar o judô sem os valores que a modalidade dissemina como modéstia, humildade, auto controle, a valorização do grupo, sentimento de pertencimento. E eu acho que a Unesco reconhece que o mundo precisa desses valores. Por mais que seja competitivo, você precisa ter sempre o outro no referencial de suas ações e é por isso que o judô foi escolhido como referência de ensino.
A intenção do governo japonês é que o programa se estenda de 2017 até 2020, ano dos Jogos Olímpicos no país, para que, até lá, outros professores tenham a oportunidade de adquirir as experiências dentro da universidade. Com o retorno do primeiro grupo ao Brasil e a apresentação das propostas curriculares, serão selecionadas para o programa escolas públicas que ainda não tenham aulas de judô ofertadas na grade horária. “As crianças serão introduzidas à melhor escola de judô, a mais vitoriosa do mundo”, destaca Luiz Lima, secretário nacional de Alto Rendimento do Ministério do Esporte.
Fonte: Observatório do Esporte e Ministério do Esporte