Amadorismo, falta de infraestrutura, dirigentes que se perpetuam no poder. Não são poucos os problemas que regem a gestão dos esportes no Brasil, resultado de um modelo que nasceu dentro de clubes há mais de cem anos, quando as primeiras agremiações foram criadas pelo País. Romper com o que está aí parece difícil, mas há quem aposte que isso é possível. Pelos caminhos do futebol americano, esporte em expansão entre o público nacional, uma iniciativa começa a tomar forma.
Em parceria com a Brazen Sports Ventures, a Confederação Brasileira de Futebol Americano-CBFA abriu em fevereiro/2013 inscrições para seletivas em nove Estados, que visam a montagem da seleção brasileira da modalidade, a qual tentará representar o País na Copa do Mundo da IFAF (Federação Internacional de Futebol Americano) de 2015, em Estocolmo, na Suécia.
Em entrevista exclusiva ao portal R7, o executivo Marcelo de Paulos, um dos sócios da Brazen, revelou que a montagem de uma seleção do Brasil é apenas o primeiro passo para voos bem mais altos. A seletiva, aberta a qualquer pessoa, tenha experiência ou não no futebol americano, dará espaço para uma análise aprofundada dos valores que o Brasil possui para a modalidade, e tais talentos deverão integrar o primeiro Campeonato Brasileiro profissional, nos moldes da MLS, a liga de futebol dos Estados Unidos.
– A liga será dona dos times. No primeiro ano, teremos seis times (dois em São Paulo, um do Rio de Janeiro, um em Curitiba, um em Belo Horizonte e outro em Cuiabá), os quais serão cedidos para um parceiro operá-los. Não é exatamente como a Liga Americana de Futebol Americano-NFL ou a Liga de Basquete dos EUA-a NBA, nas quais um gestor profissional é contratado para liderar um sindicato de donos de times. O nosso modelo será mais próximo ao da Major League Soccer–MLS, somos donos dos times e os cedemos a investidores. É um negócio estruturado, com começo, meio e fim. Em função disso, com muito interesse que temos de investidores brasileiros e americanos, digo com grande conforto que nunca vi um projeto como o nosso. Será um divisor de águas na gestão de marcas no Brasil.
Marcelo De Paulos já possui rodagem em algumas respeitáveis empresas na área do marketing esportivo, como a Ogilvy e a 9ine (empresa de Ronaldo Fenômeno), além de passagens por Unibanco, Icatu Hartford, entre outros. As experiências da carreira, associadas ao estudo nos EUA e ao sócio americano Bruce Daniels, fizeram o brasileiro colocar em marcha um plano ousado, aproveitando um potencial acima de quase 1 milhão de pessoas que movimentam as redes sociais com interesse no futebol americano, segundo dados do empresário.
– Dados do Facebook, de abril do ano passado, já mostravam 3,302 milhões de pessoas acompanham futebol, enquanto 978 mil demonstravam interesse no futebol americano. A proporção entre os dois esportes, de três para um, evidentemente não é real, os números do futebol são bem maiores, mas notamos que, para o futebol americano, a polarização está concentrada em São Paulo, com 598 mil, e no Rio, com 454 mil. É claro que a modalidade não é maior que o basquete, por exemplo, porém percebemos que o futebol americano agrega mais valor. Até campeonatos regionais as pessoas acompanham. As redes sociais têm um papel importante nisso, é nelas que esse público busca mais informações, e elas estão na nossa estratégia de desenvolvimento.
A percepção do executivo se sustenta para defender uma liga profissional no Brasil. Segundo uma pesquisa divulgada em janeiro deste ano pela Stochos Sports & Entertainment, consultoria de marketing esportivo, quase 50% dos brasileiros têm algum grau de interesse pelo futebol americano. Levando em conta quase 6.000 pessoas de 11 Estados, 47,3% disseram conhecer e gostar da modalidade no País, contra 53,7% contrários.
Futebol americano encara “teste de fogo” com proposta diferencial
A proposta da Brazen parece, em primeira análise, apenas ousada, mas com difícil perspectiva de sucesso. A percepção passa pela maneira como são conduzidos campeonatos e entidades esportivas no Brasil, a quase totalidade delas com pouco ou nenhum profissionalismo. Ao propor uma liga profissional e privada, que prevê a busca do lucro, Marcelo de Paulos sabe que enfrentará resistência e desconfiança, mas se sente preparado. A base é o que o próprio conseguiu enxergar em seus estudos nos EUA.
– Estudei um ano na Universidade de Stanford e me envolvi com gestão esportiva. Lá publiquei um trabalho mostrando que o futebol brasileiro está matando a sua “galinha dos ovos de ouro”. Fiz uma análise sistêmica da situação precária dos clubes de futebol, e a minha visão é de que o problema de gestão não envolve a pessoa, mas sim o modelo que temos aqui. Estamos buscando um modelo novo, uma liga profissional sob um modelo de negócio estruturado, lucrativo desde o primeiro dia, privada e capitalizada.
A liga profissional, com aval da CBFA, faz parte de um acordo fechado entre a entidade e a Brazen, em dezembro do ano passado. Todo o investimento financeiro nas seleções brasileiras (profissional, de base e feminina) será feita pela parceira, sob a supervisão da confederação. O anúncio oficial do Campeonato Brasileiro, 100% profissionalizado, é aguardado para as próximas semanas. O que falta? Sacramentar os últimos contratos de patrocínio e de televisão.
– Estamos acertando os últimos detalhes do ponto de vista legal, a parte tributária, societária e as questões de imigração, já que traremos profissionais dos Estados Unidos para cá (…). Não posso revelar os detalhes ainda, é um negócio na casa dos milhões e de longo prazo, com projeção inicial de sete anos. Não estamos entrando para um torneio de um ano, a captação está se dando com uma visão longa, até mesmo se for necessário arcar com prejuízo nos primeiros dois anos, para então absorver a curva de amadurecimento.
Fonte: PortalR7