Investimento insustentável e falhas na governança. Esses são alguns dos pontos mais importantes apresentados pela análise do SPLISS – Sports Policy factors Leading to International Sporting Success – sobre a aplicação de recursos e desenvolvimento do esporte no Brasil. Essa análise, construída com base de comparação entre 15 países participantes, busca uma melhor compreensão de quais são e de como as políticas esportivas implantadas levam os países a resultados internacionais.
A principal falha nas políticas esportivas do Brasil não está na falta de recursos investidos, mas no investimento feito de maneira incorreta. Segundo dados disponibilizados pela análise do SPLISS, na comparação com os 15 países do estudo, o Brasil está entre os 5 com maior investimento em esporte, acompanhado de Coreia, Japão, Austrália e França. O grande problema está na maneira como esse recurso é gasto. A realidade do esporte brasileiro é o investimento na ponta, em atletas consagrados, sem trabalhar em uma sustentabilidade com planejamento para o futuro.
Participação esportiva, identificação e desenvolvimento de talentos, suporte a carreira e ao pós-carreira de atletas, instalações esportivas, formação e educação de treinadores, além pesquisa científica e inovação. Esses são alguns dos principais fatores a serem desenvolvidos no Brasil, de acordo com os resultados obtidos na pesquisa. Esses, formam em essência, aquilo que permitiria um amplo desenvolvimento do esporte no Brasil, com melhorias para um maior contingente de pessoas, organizações e da sociedade em geral.
Segundo o SPLISS, o Brasil apresenta um dos piores índices de governança e estrutura administrativa das organizações esportivas, o que explica porque muitos processos ligados ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) são antidemocráticos, afetando consideravelmente a aplicação justa de recursos em carências historicamente reconhecidas pela comunidade esportiva brasileira.
Resultados apresentados

Falhas na gerência de recursos têm influencia direta nos resultados esportivos.
No resultado geral, o Brasil ficou em último lugar entre os 15 países analisados, alcançando apenas 38% dos pontos definidos de acordo com os 9 pontos observados no método. No resultado comparado, percebe-se claras falhas no gerenciamento e aplicação de recursos nas áreas corretas, de modo a conquistar resultados esportivos significativos de maneira constante. Destacam-se fraquezas incidentes na ineficiência dos investimentos e no baixo índice de pesquisas e inovações.
Na comparação de resultados do Brasil com Austrália e Japão, comparando as 9 variáveis, o Brasil, 13º no quadro de medalhas no último ciclo olímpico, superou Austrália (10º) e Japão (6º) em apoio financeiro ao treinamento de atletas (P1), mas se aproximou de ambos na adesão esportiva da população (P3) e na participação em competições nacionais e internacionais (P8). Os piores resultados do Brasil na comparação foram demonstrados na pesquisa e inovação (P9) e no desenvolvimento de talentos (P4). Este Gráfico confirma conclusões anteriores do SPLISS de que a política esportiva brasileira apresenta gastos similares aos países avançados em esporte de elite, mas com gestão de baixa qualidade.
Como foi feito o estudo

Síntese do modelo de análise do SPLISS.
Desenvolvido pela professora Veerle De Bosscher, da Vrije Universiteit Brussel, na Bélgica, e coordenadora do consórcio SPLISS, o modelo de análise propõe nove pilares a fim de determinar a eficiência das políticas para o esporte: 1 – suporte financeiro; 2 – organização e estrutura de políticas para o esporte; 3 – participação e esporte de base; 4 – identificação de talentos e sistema de desenvolvimento, 5 – suporte para atletas e pós-carreira; 6 – instalações esportivas; 7 – desenvolvimento e suporte para técnicos; 8 – competições nacionais e internacionais e 9 – pesquisa científica. Cada um dos pilares foi composto dos chamados Fatores Críticos de Sucesso (FCS), que são pontuados recebendo um escore para avaliar seu desempenho.
O estudo envolveu 53 pesquisadores e 33 parceiros, além de mais de 3.000 atletas de alto rendimento, 1.300 treinadores e mais de 240 gestores esportivos. Os dados obtidos foram cruzados com a performance esportiva do último período olímpico e campeonatos mundiais.