O Museu Brasileiro do Futebol, localizado no Estádio Mineirão, foi palco de três dias intensos de discussões na segunda edição do Simpósio Internacional de Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer. O evento teve início na última quinta-feira (8) e durou até sábado (10), reunindo vários pesquisadores e estudiosos, que reforçaram o debate sobre o esporte mais popular do mundo.
Primeiro dia – 08/09
As discussões sobre futebol foram muito além das quatro linhas. O evento foi iniciado pela coordenadora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Silvana Vilodre Goelner, que trouxe a exposição “Mulheres no Futebol”. A profissional comentou sobre o projeto que participou, no qual fez uma profunda pesquisa em jornais, fotografias, além de reunir jornalistas, treinadoras, jogadoras e árbitras. Silvana ainda relembrou momentos difíceis para o gênero feminino no futebol.
“Para quem não conhece, o futebol feminino ficou esquecido no Brasil por quase 40 anos e regularizado em 1973. Então, muito dessa ausência, se deve a essa proibição. Trazer essas histórias à tona é algo que constantemente tem partido dessa iniciativa. Elas têm pautado outras possibilidades”, disse a coordenadora, que aproveitou a oportunidade para fazer um apelo: “Que o futebol feminino seja pauta de nossa agenda política e pedagógica não somente em ano de Olimpíada e quando os homens não vão bem”, completou.
O futebol europeu também foi pauta da discussão. O professor Ramon Llopis-Goig, da Universidade de Valência, na Espanha, apresentou os resultados do projeto FREE, no qual foi desenvolvido com o auxílio da Antropologia, Ciência Política, Relações Internacionais, História e Sociologia e que tem o intuito de compreender o impacto do esporte no continente europeu.
Segundo dia – 09/09
O segundo dia de debate foi iniciado pelo professor de geografia urbana Gilmar Mascarenhas, da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). O profissional trouxe o tema “Futebol e Direito à Cidade: a política do estádio”. A tônica da discussão se deu pelas mudanças nas arenas de futebol do Brasil nos últimos anos, mudanças que trouxeram um embate entre dois pontos: capitalismo x cultura dos torcedores brasileiros.
“No estádio, há uma lógica capitalista muito grande, que vem passando por um processo de acentuação da sua condição de mercantilização, ao mesmo tempo em que tem um acúmulo histórico de práticas, cânticos, emoções. Esse conteúdo histórico entra em um embate contra a lógica da mercantilização do estádio”, declarou Gilmar.
A coordenadora Silvana Vilodre Goelner, voltou a ministrar, no segundo dia de conversas, a palestra com o tema “Futebol e Gênero”, no qual discute a participação das mulheres no esporte. Para a profissional, “as mulheres são marcadas por outras variáveis além do gênero, que importam na sua identificação e na sua relação com o esporte: raça, etnia, classe social”. Silvana ainda ressaltou a importância do futebol feminino, como um exercício de liberdade, sociabilidade, empoderamento e renda.
Já a doutora em Educação Física pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e mestre em Lazer pela UFMG, Priscila Augusta Ferreira Campos, falou sobre o tema “Pesquisas sobre futebol nas ciências humanas e sociais: um mapa a ser analisado”, enquanto Mauricio Murad, doutor em sociologia dos esportes pela Universidade do Porto (Portugal) e professor de sociologia da pós-graduação da Universidade Salgado de Oliveira, contou casos sobre o assunto “Futebol e universidade no Brasil, a partir de 1990”.
Terceiro dia – 09/09
No último dia de discussões, Marcelo Weishaupt Proni, professor da Unicamp e ex-diretor do Instituo de Economia da Universidade, discorreu sobre o tema “O futebol como objeto de estudo da Ciência Econômica”. As ciências humanas também foram aliadas no debate, quando Arlei Damo, doutor em Antropologia Social pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professor adjunto no Departamento de Antropologia da mesma instituição, falou sobre o assunto “O futebol tem futuro nas ciências humanas brasileiras?”.
Os alunos da EEFFTO (Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG) também ministraram os trabalhos no Simpósio. Os jovens apresentaram uma exposição a respeito de assuntos que cercam o futebol em vários âmbitos. Por fim, Julio Frydenberg, fundador e diretor do Centro de Estudos do Esporte da UNSAM (Escola de Política e Governo da Universidade Nacional de General San Martín), falou sobre a produção do futebol na Argentina, com o tema “Produção acadêmica sobre futebol na Argentina. Análises e perspectivas”.
Realização
O II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer foi uma realização dos núcleos de pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), GEFuT (Grupos de Estudos sobre Futebol e Torcidas) e FULIA (Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes). A primeira edição ocorreu em 2013.