Pesquisa divulgada pela consultoria Ernst & Young relaciona a posição das mulheres nos negócios à prática de esportes em diversas fases da vida. Realizado em 15 países com 821 gerentes seniores e executivos, o estudo apontou que 90% das mulheres entrevistadas praticaram esportes durante o ensino fundamental, médio ou superior. No Brasil, por exemplo, a prática de atividade física faz parte do currículo escolar. Uma análise mais aprofundada mostra que 55% das mulheres em cargos de direção praticaram esportes durante a universidade, sendo que cerca de 12% delas levaram essa prática ao nível profissional. Nas mulheres que ocupam cargos mais baixos, esse índice recua para 9%.
O estudo da Ernst & Young é parte de uma iniciativa lançada em março para apoiar atletas olímpicas e de elite a melhorar o processo de transição entre a aposentadoria e a escolha de uma nova carreira. Chamado de Women Athletes Global Leadership Network, o programa aproveita características que as atletas já têm, como liderança, trabalho em grupo, perseverança e disciplina para aplicá-las na nova realidade enfrentada após a aposentadoria – geralmente precoce – do mundo esportivo.
Entre as atletas brasileiras estão nomes como Hortência, Ana Moser, Adriana Samuel, Adriana Behar, Jacqueline Silva e Fabíola Molina. Entre elas, apenas Fabíola ainda está em atividade. O objetivo dessa rede é ampliar o relacionamento das atletas, para que o sucesso pessoal e profissional delas possa inspirar outras mulheres. Depois de aposentadas, as esportistas geralmente começam carreiras em entidades públicas e privadas e em organizações não-governamentais.
Fabíola, por exemplo, já tem um pé no empreendedorismo. A atleta está à frente de uma empresa que fabrica e vende biquínis (especialmente os chamados sunquínis) e maiôs para nadadoras. Até formar a empresa, que tem sua família na condução diária do negócio, a nadadora recebia encomendas de outras atletas e entregava pessoalmente os pedidos nas competições internacionais. “Enfrentamos uma dificuldade grande para acertar nosso site e entregar diretamente no exterior. Foram nove meses até arrumar tudo, para que as pessoas pudessem pagar com cartões, por exemplo”, diz Fabíola.
Quem está à frente da rede de atletas da Ernst & Young é a ex-jogadora de basquete Beth Brooke, atual vice-presidente global de Políticas Públicas da empresa. Beth foi considerada pela revista Forbes uma das 100 mulheres mais poderosas do mundo e defende os direitos das mulheres. No ano passado, Beth anunciou publicamente que é homossexual e fez parte da campanha It Gets Better (Isso melhora, em tradução livre), para desencorajar o suicídio de jovens gays. Durante sua passagem por São Paulo hoje (18/6) para participar do Women’s Forum, Beth respondeu a algumas perguntas da imprensa:
Quais características as atletas levam para suas carreiras depois da aposentadoria esportiva?
Ficou claro para nós que as atletas estão adquirindo disciplina, determinação, perseverança, foco, confiança, liderança – todas as características fundamentais para o sucesso. Para ser uma atleta de ponta, você também precisa ser empreendedora. Precisa lidar com o treinamento, o técnico, horários, contratos. Precisa desenvolver uma série de características de liderança vistas nos empreendedores. O ponto é que as atletas não sabem que têm essas características. Elas nunca pensaram sobre isso. Essa é uma das vantagens dessa rede de esportistas mulheres: fazer com que elas pensem e percebam que são atletas de elite e que quando se aposentam têm características que permitem realizar uma transição para outras carreiras.
De que forma essa atletas podem inspirar as mulheres que não são esportistas?
Nosso estudo mostra que 90% das mulheres bem-sucedidas nos negócios têm a prática de esportes em sua trajetória. Nos níveis mais altos, 96% das mulheres praticaram esportes anteriormente. Essas mulheres “normais” do mundo dos negócios provavelmente praticaram esportes no passado. Elas entendem a importância do esporte para elas. E essas mulheres querem ajudar atletas, seja para fazer uma transição para trabalhar com projetos públicos ou para ser empreendedoras, líderes de negócios ou líderes políticas.
Como um projeto como esse pode funcionar num país como o Brasil, onde o esporte não é visto de forma tão profissional quanto em outros lugares?
O Brasil é um ótimo mercado, com bons atletas olímpicos e esportistas de ponta. O que estamos tentando fazer é focar em algumas atletas para ajudá-las a realizar uma transição melhor ao se aposentar. Algumas são muito bem-sucedidas em suas carreiras depois do esporte. Outro ponto importante é o que essas atletas de ponta sabem que é normal falhar. Às vezes elas ganhavam, outras vezes perdiam. Elas sabem como é a vida. O que elas não sabem é que o mundo dos negócios é igual. Às vezes você falha, mesmo dando o seu melhor. No dia seguinte, você acorda, trabalha duro e consegue o que quer. É a mesma vida que as atletas viviam antes. Elas só não sabem disso ainda.