Parceria entre empreendedores esportivos e empresas financiadoras cumprem importantes funções sociais, além de contribuírem para o desenvolvimento do esporte e dos esportistas nacionais.
O esporte no Brasil é reconhecido como um direito do cidadão e encarado como uma forma de induzir ao desenvolvimento social e econômico o país, os estados e os municípios. Com a promulgação das Leis Federais nº 9.615 de 1998 (Lei Pelé), e nº 10.671 de 2003 (conhecida como “Estatuto do Torcedor”), o Esporte e o Lazer ganharam substrato legal para que os preceitos constitucionais que os regem ganhassem eficácia.
De diversas formas, o poder público tenta garantir aos cidadãos o pleno exercício deste direito. Por vezes, projetos de execução direta promovem o esporte, o lazer e atividades físicas em diversas localidades. Nestes projetos, por meio de pessoal e infraestrutura própria, o estado se responsabiliza por garantir as atividades. É o caso do esporte educacional nas escolas da rede pública, por exemplo.
Outras vezes, parcerias com convenentes (ligas, associações, clubes, federações, academias, terceiro setor, entre outros) levam as atividades esportivas e de lazer a pessoas que o poder público não teria condições de atender por meio de recursos humanos e infraestrutura própria. Nestes casos, são feitos repasses a organizações, em troca da prestação de serviços pactuados. Este é o caso, por exemplo, do Programa Geração Saúde, que oferece prática de atividade física orientada a pessoas atendidas pelo Programa Saúde da Família (SUS), em execução em diversas cidades mineiras, por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude, núcleos de atendimento do SUS, prefeituras municipais e academias privadas.
Por fim, as Leis de Incentivo ao Esporte vieram inovar o modelo das parcerias propostas, ao colocar mais um conjunto de atores nessa cadeia. Tais Leis são meios pelos quais o poder público renuncia a parte dos impostos que lhe são devidos, oferecendo vantagens a empresas que financiem a promoção do esporte e do lazer. As Leis de Incentivo trazem para o esporte certo nível de profissionalização da gestão, uma vez que os projetos são avaliados por corpo técnico qualificado do poder público e, uma vez aprovados, devem buscar junto à iniciativa privada meios de se viabilizar financeiramente. Deste modo, os gestores interessados em promover os projetos devem ser habilitados a formulá-los, aprová-los, viabilizá-los e administrá-los. Espera-se, em médio prazo, que a boa execução destes projetos gere financiamento espontâneo para iniciativas de potencial e sucesso.
Este artigo visa demonstrar exemplos de parcerias estabelecidas entre empresas financiadoras, por vezes com a intermediação do poder público por meio de leis de incentivo, para que ações de promoção do esporte fossem realizadas. O texto apresenta algumas empresas parceiras do esporte, a maneira como encaram o assunto e o tipo de apoio dado. Para empreendedores interessados na promoção esportiva, o artigo traz experiências de sucesso e tendências atuais, que podem dar ideias não só de projetos viáveis, como de potenciais parceiros.
Uma das intenções do Observatório é inventariar iniciativas deste tipo e apresentar, na medida do possível, projetos esportivos de sucesso, propiciando aos gestores interessados dados, informações e exemplos que podem inspirar novos projetos e inovações, além de empresas parceiras e setores econômicos com afinidade com o esporte.
Vale
A Vale é uma multinacional brasileira que utiliza o esporte como uma maneira de dar forma a alguns de seus trabalhos sociais. Uma vez que suas atividades são, ao mesmo tempo, geradoras de largas divisas e danos socioambientais, a Vale tem programas voltados para mitigar os efeitos perniciosos de sua atividade, de modo a gerar benefícios extras para pessoas atingidas e para os locais onde se instala.
A Vale está ativa em vários estados brasileiros, inclusive Minas Gerais, fomentando centros de desenvolvimento humano que se articulam com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público para promover programas sociais. As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, em conjunto com a Vale, trabalham para o desenvolvimento integrado das comunidades e pessoas, por meio do esporte, cultura, qualificação profissional, geração de emprego e renda. Além disso, existem também, os Programas associados a centros de desenvolvimento humano mantidos pela empresa.
O “Brasil Vale Ouro” é um desses programas, que associa desenvolvimento social a desenvolvimento esportivo. O objetivo fundamental do programa é localizar e desenvolver jovens atletas com potencial para compor as futuras seleções do país. O “Brasil Vale Ouro” marca a entrada da Vale no ramo do Esporte de Alto Rendimento, num plano de prazo médio-longo que busca talentos esportivos em todo o país, nas modalidades judô, atletismo e natação.
Além desse programa, executado em núcleos espalhados por algumas regiões do país, a Vale assumiu o desafio de construir, em parceria com o Poder Público, o denominado “Centro Nacional de Excelência”, no Rio de Janeiro. Este projeto prevê não apenas instalações esportivas de qualidade internacional, como também um alojamento para abrigar 100 atletas de alto nível, onde haverá espaço para treinamento e preparação esportiva de grande qualidade.
Banco do Brasil
Desde o início da década de 1990, o Banco do Brasil incentiva o esporte nacional gerando resultados positivos não só para o Banco, mas também para o esporte. Segundo a Revista Exame, o Banco utilizou o financiamento esportivo como uma estratégia de marketing para renovar sua envelhecida cartela de clientes. Parceiro do vôlei brasileiro, desde então este esporte se tornou o segundo esporte na preferência nacional, e ganhou nada menos do que quinze medalhas olímpicas, de 1992 a 2008.
O Banco do Brasil marca a modalidade vôlei de praia, que deu origem ao “Circuito BB de Vôlei de Praia”. Com isso, por meio de investimentos financeiros e apoio aos profissionais, o banco passou a estampar sua marca nas seleções brasileiras da modalidade, sendo que atualmente incentiva outros esportes como o futsal e o ciclismo. Além disso, o Banco do Brasil é patrocinador dos iatistas Robert Scheidt e Bruno Prada; dos jogadores Giba (vôlei) e Falcão (futsal); do ex-atleta Gustavo Kuerten, do Instituto Gustavo Kuerten e de seus projetos de desenvolvimento do tênis. A Escola de Vôlei do Bernardinho e ex-medalhistas olímpicos completam a lista de investimento em Marketing Esportivo do Banco do Brasil.
Caixa Econômica Federal
A Caixa Econômica Federal, assim como o Banco do Brasil utiliza do Marketing Esportivo para atingir seu público alvo. O bom rendimento do Brasil nas Olimpíadas em Atenas incentivou o banco a investir no Comitê Paraolímpico Brasileiro. O sucesso levou a Caixa a patrocinar a ginástica artística, rítmica e do trampolim nos Jogos Pan-americanos.
Além de patrocinar os atletas de alto nível, o banco também investe em esportes amadores e jovens talentos através dos seus 20 centros de excelência para treinos de ginástica.
Petrobrás
A Petrobrás também não fica para trás no que diz respeito a incentivo ao esporte. A empresa acredita na melhoria das políticas públicas ao responder às demandas sociais por meio da integração de recursos financeiros em sinergia com as ações governamentais e da sociedade civil organizada. Dessa forma, projetos sociais, culturais, ambientais e esportivos têm destaque nos programas de incentivo.
No que diz respeito ao esporte, a Petrobrás apoia projetos de Esporte de Rendimento, Esporte Motor, além de utilizar da Lei de Incentivo para descobrir novos atletas. Os programas apoiados pela empresa envolvem as modalidades futebol, handebol, surfe e tênis, além do automobilismo.
Por fim, em 2011 a empresa lançou o primeiro edital para fomento de projetos de esporte educacional. Neste edital, ela incentiva a criação, a apresentação e a execução de projetos na manifestação esportiva em questão. Além disso, ao publicar o edital, a empresa incentivou a articulação dos proponentes com órgãos de governança e controle social – como os Conselhos Municipais da Criança e do Adolescente e os Conselhos Municipais do Esporte. Vale lembrar que órgãos do poder público também podem propor projetos à empresa, o que faz do Programa Esporte e Cidadania uma inovação no mundo do esporte brasileiro.